domingo, 26 de abril de 2009

Como aprendi o português


Reli o belo conto/crônica de Paulo Rónai, “Como aprendi o português”, enfeixado no livro de mesmo nome [editora Globo, 1975]. Rónai conta como, na Budapeste de 1939, seu grupo de amigos estudava línguas “exóticas” e ele se sentia “humilhado” por estudar uma “fácil”: o português.
Começou pelo português de Portugal, até cair-lhe nas mãos um livro de poesia brasileira. Ele diz como passou a receber copiosa correspondência do Brasil depois de uma carta enviada ao jornal Correio da Manhã, do Rio. E como a publicação de alguns poemas, que ele traduziu para o húngaro [a única língua que o diabo respeita, conforme li em Budapeste, de Chico Buarque, que deve ter visto em outro lugar], nos jornais de sua cidade, levou um importante crítico a dizer que “o Brasil chegou-se mais perto” da Hungria.
Com o início da Segunda Guerra Mundial, o governo húngaro, pró-nazista, prende Rónai [filho de judeus] em um campo de trabalhos forçados. Ele consegue fugir para Portugal, tendo como objetivo chegar ao Brasil. Mas, o estudo da língua de Camões de nada lhe serve para conversar com os portugueses – o que o deixa profundamente frustrado –, ainda que lhe possibilitasse ler perfeitamente os jornais. Depois de seis semanas, embarca para o Brasil.
Veja a forma deliciosa como ele relata a sua chegada ao Rio de Janeiro.
“Cheguei uns vinte dias depois. Que alívio logo na entrada! O Brasil recebia-me com uma linguagem clara, sem mistérios. Ainda não desembarcara, e já não perdia nenhuma das palavras do carregador que, em compensação, perdeu uma de minhas malas. Entendi igualmente o funcionário da alfândega; e de tão satisfeito, não lhe rebati a surpreendente afirmação de que o português e o húngaro eram línguas irmãs. O deslumbramento continuou na rua, no primeiro táxi, no hotel. O idioma que eu aprendera em Budapeste era mesmo o português!”

Um comentário:

  1. outro que aprendeu português como se tivesse nascido aqui foi Otto Maria Carpeaux. Veio da Áustria fugindo dos nazistas, formou-se em Direito com doutorado em Matemática, Física, Química, Filosofia e Letras. Como se não bastasse escreveu, História da Literatura Ocidental com 2879 páginas. Tipos assim estão raros...

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