terça-feira, 28 de abril de 2009

A complicada escolha das palavras

O artigo da ombudsman do New York Times desta semana, que tem o título acima, discute como a escolha de uma palavra mobiliza a redação de um jornal, e "demonstra os campos minados lingüísticos pelos quais jornalistas passam todo dia quando querem fornecer descrições precisas aos leitores".
Ela está falando na mudança na forma como o jornal classifica o sofrimento inflingido pela CIA ao prisioneiros da al-Qaeda. A reportagem descreve que os prisioneiros "tiveram que tirar as roupas e foram agredidos; ficaram mantidos acordados por 11 dias seguidos, algumas vezes com os braços acorrentadas ao teto; ficaram confinados em quartos escuros e passaram por simulações de afogamento". E como chamar isso: de "tramento cruel", "tramento brutal" ou simplesmente "tortura"? Para o governo Bush, eram técnicas "avançadas" de interrogatório.
O NYT começou classificando os interrogatórios de "cruéis", depois passou a chamá-los de "brutais", usando menos a palavra "tortura".
Segundo a ombudsman, alguns leitores acham que o jornal vem usando eufemismo, em vez de classificar como "tortura" o que ocorreu; outros achando que as medidas extremas eram necessários. Veja no Observatório da Imprensa.

Um comentário:

  1. Ou seja: pelo menos parte da realidade pode ser construída pela linguagem. A discussão do The New York Times mostra como simples expressões podem encerrar julgamentos, como ocorre na eterna polêmica entre "ocupação" e "invasão" (sobre as ações do MST). Ou não, se se aderir à hipótese de que a realidade factual sobressai e prescinde da linguagem para existir.

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